"Há uma correlação íntima entre a concepção de Deus e a concepção do Homem. Com o eclipse de Deus é o sentido do mundo que desaparece e o próprio Homem perde orientação"
"Evidentemente, quem acredita no Deus transcendente, pessoal e criador sabe que Deus não é pessoa à maneira das pessoas humanas, finitas. Deus também não é um Super-homem"
"A Bíblia vê neste projecto uma iniciativa de arrogância e orgulho insensatos, aquela hybris – desmesura – que os gregos também condenavam, porque arrasta consigo a maldição e a catástrofe, o abismo da destruição"
"O mito é uma advertência eloquente contra o desígnio de dominação"
"No Pentecostes, restabelece-se a unidade desfeita com a Torre de Babel"
"Leibniz era um cristão convicto e, portanto, Deus, entre os mundos possíveis, tinha de ter criado o melhor"
"Se, para Leibniz, o nosso é o melhor dos mundos possíveis, para Arthur Schopenhauer, é precisamente o contrário: este é o pior dos mundos possíveis. Existir é sofrer"
"Num mundo comum, que crentes e não crentes habitam, o que os separa é a interpretação que dão a esse mundo ambíguo"
"É confrangedor e mesmo horripilante saber que há ainda quem pregue e até ensine na catequese que Jesus veio ao mundo, enviado por Deus, para ser crucificado como vítima expiatória pelos pecados"
"Na realidade, foi o contrário que se passou. Jesus anunciou exactamente o contrário. Este é o seu Evangelho, notícia boa e felicitante: Deus é bom, Abbá (querido Papá), Pai/Mãe"
"Para voltar a Jesus, impõe-se uma mudança na Constituição da Igreja, uma verdadeira revolução"
"Nos seus inícios, o cristianismo triunfou, porque a uma sociedade angustiada com a morte se apresentou com a promessa inaudita da esperança na ressurreição"
"Mas hoje a morte é tabu, e a ressurreição dos mortos e a vida eterna tornaram-se não plausíveis e sem interesse"
"A brutalidade do mal, que nos faz gritar e nos esvazia a capacidade de pensar, tem uma expressão terrível num passo célebre de Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski, quando Ivan refere a tortura exercida sobre as crianças"
"Na Sexta-Feira Santa histórica de há dois mil anos, Jesus, inocente e condenado como blasfemo e subversivo, morreu a rezar esta pergunta in-finita que atravessa os séculos: “Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?”"
"Sem o cuidado ao longo da vida toda, do nascimento à morte, o ser humano desestrutura-se, sente-se perdido, só, não encontra sentido e acaba por morrer, entregue ao abandono"
"Claro, cuidar de nós, cuidar dos familiares e amigos, cuidar dos mais frágeis, cuidar da natureza, cuidar da espiritualidade, da transcendência..., de Deus em nós"
"É claro que a hermenêutica feminista tem de ser uma hermenêutica da suspeita. Essa hermenêutica é particularmente crítica com as imagens patriarcais de Deus. De facto, se Deus é masculino, o homem-varão acaba por ser divinizado"
"Não é de suspeitar que religiões orientadas por homens e textos que têm homens como autores maltratem as mulheres, lhes sejam pouco favoráveis e as tornem invisíveis, as considerem inferiores e as coloquem em lugares subordinados?"
"E o que é que pode impedir os crentes de se dirigirem a Deus como Mãe? Deus é Pai/Mãe"
"Maria Madalena constitui um caso especial nessa amizade: ela acompanhou-o desde o início até à morte e foi ela que primeiro intuiu e fez a experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado não foi entregue à morte para sempre"
"A Igreja continua a ser um dos maiores esteios da sociedade patriarcal. Até inconscientemente, com a doutrina tradicional, embora esta não encontre apoio no Evangelho"
"Já há anos, o então cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, que sabia Teologia, fez uma declaração que teve muito eco nos média, inclusive estrangeiros: “Teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental” à ordenação de mulheres"
"A questão da mulher na Igreja tem, pois, de ser revista. Para não ferir o que Jesus disse: “Sois todos irmãos e iguais”"
Dou hoje início a uma breve reflexão sobre a questão, mostrando a necessidade de acabar com o fundamentalismo
Há várias explicações para o fundamentalismo, que cultiva o pensamento único e a intolerância
É preciso perguntar: quem é o Homem, um ser finito, para considerar-se senhor do Fundamento? Ele não possui o Fundamento ou o Absoluto, é o Fundamento que o possui a ele
"Na civilização da imagem, importante não é ser, mas parecer e aparecer. Quem não aparece existe?"
"Na civilização da imagem, onde a realidade é o que se mostra, vive-se na imediatidade do que há, do mercado das sensações, do empírico-funcional, e, portanto, na in-transcendência"
"O Papa Bonifácio VIII formulou a teoria das duas espadas, segundo a qual o Papa detém o poder espiritual e o temporal, mas, se exerce o primeiro directamente, delega o segundo nos príncipes, que o exercem em representação do Papa"
"Com a desconfessionalização do Estado, os cidadãos tornaram-se livres de terem esta ou aquela religião ou nenhuma"
"Um Estado confessional põe em causa a transcendência divina. Por outro lado, acaba por impor politicamente o que só pode ser objecto de opção livre"
"O que é o Homem? Ao longo dos séculos, foram-se sucedendo, numa lista quase interminável, as tentativas de resposta"
"Animal que fala, animal político (Aristóteles); animal racional (os estóicos e a Escolástica); realidade sagrada (Séneca); um ser que pensa (Descartes); uma cana pensante (Pascal); um ser que trabalha (Marx); um animal capaz de prometer (Nietzsche); um ser que cria (Bergson); um animal que ri, um animal que chora, um animal que sepulta os mortos..."
"O Homem tem, segundo Edgar Morin, 'a singularidade de ser cerebralmente sapiens-demens' (sapiente-demente), ter, portanto, com ele 'ao mesmo tempo a racionalidade, o delírio, a hybris (a desmesura), a destrutividade'"
"Se o chimpanzé, por exemplo, também sente, recorda, procura, espera, joga, comunica, aprende e inventa, o que é que nos distingue?"