"Um corpo humano canta, ora, sorri, produz obras de arte, que param o tempo e visibilizam a transcendência. De um bloco de mármore Miguel Ângelo arranca a Pietà"
"Quando dois corpos humanos se abraçam são duas pessoas que dizem uma à outra quanto se querem bem""
"Permanentemente espreita o perigo de coisificar o corpo ou de desprezá-lo, refugiando-se num idealismo angélico"
"A questão da subjectividade pertence ao núcleo da reflexão humana. Embora algumas correntes filosóficas falem da sua dissolução, penso que o sujeito é ineliminável"
"O "eu" do autoconhecimento não é redutível àquilo a que nos referimos com nomes ou caracterizações"
"Por mim, afirmo que há a experiência vivida e inexpugnável do eu, ainda que numa identidade em transformação, que continuamente se faz, desfaz e refaz"
"Apesar de não se afastar por princípio a possibilidade de se poder vir a dar essa compreensão, o filósofo Colin McGinn pensa que talvez nunca venhamos a entender como é que a consciência surge num mundo corporal, a partir de processos físicos"
"A nossa missão e tarefa é, fazendo o que fazemos, fazermo-nos a nós próprios. E todos morremos inacabados"
"E o que há de mais fundamental, essencial, do que a questão de Deus? Há Filosofia sem a pergunta por Deus? Se não quisermos permanecer na superfície ou nas simples convenções, se quisermos apresentar seriamente o fundamento da dignidade humana, dos direitos humanos, não é aí que vamos desembocar?"
"Para Jean Paul, a morte de Deus não era ainda um destino espiritual inevitável. Apenas a tentação de uma possibilidade ameaçadora"
"Aqui chegados e tomando consciência de escândalos que clamam aos céus, impõe-se que a Igreja se pergunte pela sua responsabilidade no aumento do ateísmo"
É do essencial que a Páscoa trata. E lá está Pascal: “Jesus estará em agonia até ao fim dos tempos; é preciso não dormir durante esse tempo”
Na Paixão, estamos todos. Jesus não morreu vítima de Deus, que precisaria da sua morte para aplacar a Sua ira e assim poder reconcialiar-se com a Humanidade
Jesus morreu na cruz, a morte horrenda que os romanos davam aos rebeldes e aos escravos. Aparentemente, foi o fim. O enigma histórico do cristianismo é que, pouco tempo depois, os discípulos voltaram a reunir-se e foram anunciar ao mundo que aquele crucificado é realmente o Messias, o Salvador
"Para a compreensão adequada da Bíblia, se impõe conhecer a história dos textos, as línguas, os lugares, os tempos, os géneros literários, os contextos em que apareceram e os destinatários a que se dirigiam"
"A Bíblia é o livro mais traduzido e mais lido da História: no ano 2003, havia tradução, na totalidade ou em parte, para 2303 línguas e já se contavam 555 milhões de exemplares em todo o mundo"
"A Bíblia é, antes de mais, o livro de importância essencial para os crentes cristãos, pois nela encontram o núcleo da sua fé"
" Como disse, é essencial saber lê-la, exige-se uma leitura histórico-crítica, pois, à letra, pode levar a desastres"
O poder dos padres e dos bispos, do clero, é tantas vezes “excessivo e distanciador”
A Igreja continua demasiado “romanocêntrica”. A mensagem do Evangelho precisa de encarnar nas várias culturas e actualizar a linguagem
Impõe-se cuidar das vítimas, que têm de ocupar o centro, fazer reparação, também financeira, sabendo que é um pecado hediondo, mas também um crime. E fica a necessidade de repensar a formação dos padres, também no domínio afectivo-sexual
"Que dizer da ignomínia da pedofilia? Para ela, “tolerância zero”. E não apenas com palavras, mas com determinações seguras, também penais: a pedofilia não é só um pecado, é um crime"
Francisco é combatente acérrimo contra o clericalismo e o carreirismo eclesiástico, uma “peste” na Igreja. Não quer “bispos príncipes” nem “bispos de aeroporto”
"Desde o princípio, defensor acérrimo da paz, a sua intervenção política foi notada, a ponto de se ter tornado um líder político-moral global, talvez o mais ouvido"
"Com a tomada de consciência da tragédia da pedofilia, fala-se de um sismo e impõe-se uma reconstrução desde os fundamentos: Jesus e o Evangelho"
De que sofre a Igreja? A Igreja católica, a maior, a mais poderosa, a mais internacional Igreja, essa grande comunidade de fé, está "realmente doente", "sofre do sistema romano de poder"
"A Igreja não pode entender-se como um aparelho de poder ou uma empresa religiosa, mas como povo de Deus e comunidade do Espírito Santo nos diferentes lugares e no mundo"
"A reflexão tem de atender aos números, mas, como diz o Papa Francisco, mesmo que houvesse apenas um caso, seria uma tragédia"
"O abuso é sempre abuso de poder. De facto, de um lado está um adulto e do outro uma criança inocente. No caso da Igreja, o abuso é mais brutal, porque se trata de um poder considerado sacro, divino, e, por outro lado, a família e as crianças confiavam na Igreja e nos padres"
"Neste caso concreto, sem esquecer que se trata também de um crime hediondo, exige-se um pedido sentido de perdão, um apoio sólido às vitimas, psicológico, psiquiátrico, e, na medida do possível e em condições a estabelecer, também financeiro"
"Os encobridores, que antepuseram a defesa da instituição, que queriam ver prestigiada, imaculada, à defesa das vítimas, deveriam demitir-se"
"Como explica no seu Credo o famoso teólogo Hans Küng, “a Igreja é a ‘assembleia’, a ‘comunidade’ dos que crêem que Jesus é o Cristo, dos que fizeram sua a causa de Jesus e dela dão testemunho como esperança para todos”
"Ora, Jesus queria a Igreja enquanto Povo de Deus, não uma Igreja instituição de poder e clerical, com duas classes: de um lado, a hierarquia, o clero, que ensina e que manda em nome de Deus, e, do outro, os leigos, os que obedecem"
"Portanto, o que se passou e passa é que a hierarquia, padres e bispos, sacralizaram-se, atribuindo-se a si mesmos privilégios sacros ao serviço dos quais estaria o próprio celibato"
"O Papa, na sua debilidade física, em cadeira de rodas, mas firme na sua missão profética, foi exemplo evangélico, cristão, de entrega ao cuidado da Humanidade na justiça, na fraternidade e na paz"
"E comoveu-se tantas vezes, no contacto com mutilados de guerra, e certamente nunca esquecerá aquela menina a oferecer-lhe uma esmola"
"Também deixou recados para o interior da Igreja, nomeadamente para o clero"
"Para mim, A. Torres Queiruga foi e é o teólogo que de modo mais profundo e conseguido enfrentou o cristianismo com a modernidade e a modernidade com os cristianismo"
"Não há milagres no sentido da suspensão das leis que regem a natureza. De facto, os milagres supõem o que não é pensável: um Deus "intervencionista", que está fora do mundo e que, de vez em quando e de forma arbitrária, vem dentro"
"Não há dúvida de que o seu grande legado para a História foi a renúncia, sinal de humildade e dessacralizando o papado"
"É sabido que enquanto Bento XVI vivesse a renúncia de Francisco seria muito difícil. Por isso, alguns ultraconservadores e opositores de Francisco apressaram-se na luta de ataques contra ele"
"A Igreja atravessa uma das suas mais dramáticas crises e precisa de uma mudança estrutural"
O legado de Francisco será precismente uma Igreja sinodal, caminhando todos em conjunto, sem “imperador” e “uma ditadura da distância"
Ainda recentemente Francisco lembrou o seu antecessor, que dizia: “A Igreja não faz proselitismo, cresce muito mais por atracção”
Ele que carregou com o que terá constituído o seu maior pecado — a condenação de dezenas e dezenas de teólogos — também deixou escrito: “Acima do Papa encontra-se a própria consciência
Contra uma Igreja centrada na Europa, confessou, já depois de ter abdicado e pensando na eleição de Bergoglio: “Papa é o Papa, não importa quem seja”
Percebeu a necessidade, no contexto da interdependência de tudo e de todos, de uma Governança global
"Ideia nuclear foi a do diálogo entre a fé e a razão. A fé, sem a razão, é cega e intolerante; a razão, sem a abertura à transcendência, pode enlouquecer"
"Este foi o seu testamento: abandonou pacificamente o poder. Porque na Igreja, como aliás no mundo em geral, é preciso escolher entre o poder como dominação e a força do serviço"
"Sem forças “no corpo e no espírito”, abdicou, “em consciência e plena liberdade”, para que outro lhe sucedesse"
Os Evangelhos escrevem sobre realidade histórica, mas foram escritos por quem, à luz do fim, já acreditava que Jesus é, na confissão de São Pedro, “o Filho do Deus vivo”
"Ora, a vida cristã, se quiser ser verdadeiramente cristã, no discipulado de Jesus, tem de ser determinada mais pela ortopráxis do que pela ortodoxia"
"A Igreja só se justifica enquanto vive, transporta e entrega a todos, por palavras e obras, o Evangelho de Jesus, a sua mensagem de dignificação de todos, mensagem que mudou a História"
"Com esta expressão — é sempre Advento, ainda é Advento —, Ernst Bloch queria apelar para a esperança. O mundo e a humanidade continuam grávidos de ânsia e possibilidades, e a esperança está viva e há razões objectivas para esperar"
"Quando se pensa nas raízes da Europa, é claro que, para quem está atento e não tem preconceitos, um dos fundamentos determinantes da Europa é o cristianismo"
"Assim também, sem o conhecimento da Bíblia, não podemos compreender as catedrais, o gótico, a Idade Média, Dante, Rembrandt, Haendel, Bach, Beethoven, os Requiem, 'absolutamente nada', escrevia Ernst Bloch"