"O modelo dos países do hemisfério norte, sendo necessário sublinhar que ele se implantou já noutras paragens, não pode estender-se ao mundo inteiro, isto é, não é universalizável, sob pena de pura e simplesmente não haver futuro para o planeta. E, não sendo universalizável, não é ético"
"Impõe-se uma conversão sócio-ecológica, no sentido da transformação do modelo de desenvolvimento em que assentou a modernidade"
"O sentido da economia e da política só pode ser o serviço da vida. Trata-se de uma política para a vida (Vitalpolitik, segundo Peter Rüstow)"
"Em toda a sua História, talvez nunca a Humanidade tenha estado numa crise tão grave como aquela que já se vive e se aproxima"
"Trata-se de um consenso de base, mínimo, referente a valores vinculantes, a critérios e normas inamovíveis e a atitudes morais fundamentais"
"Para agir de forma verdadeiramente humana, vale, antes de mais, a regra de ouro: Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti (formulada positivamente: Faz aos outros o que queres que te façam a ti)"
"No que se refere à moral, Max Horkheimer, um dos fundadores da Escola Crítica de Frankfurt, deixou escrito que não é possível fundamentar a moral de um modo exclusivamente lógico"
"A bondade tem de ser inteligente, esclarecida. Na Igreja, prega-se frequentemente a bondade. Mas não basta"
"Desgraçadamente, devido a toda uma mentalidade dogmática, de rigidez doutrinal, na Igreja não há o hábito de fazer perguntas, de preparar para o juízo crítico. No entanto, se o crente está referido a Deus, que é infinito, não é sua obrigação interrogar, fazer perguntas ilimitadamente? Não é “a pergunta a piedade do pensamento”, como disse Martin Heidegger?"
"Jesus veio proclamar que Deus é bom, que está farto de sacrifícios, e foi mesmo o enfrentamento com o sacerdócio judaico uma das razões da sua crucifixão"
"A revolução é, pois, esta: os homens e as mulheres não têm que ter medo de Deus. Ora, se não precisam de ter medo, são livres e não escravos. Então, libertos do medo, não metem medo"
"O Deus que mete medo e apavora está ao serviço do poder: é fácil subordinar quem vive afogado em medo"
"No dia em que a mensagem de Jesus chegar à cabeça e ao coração e à acção dos seres humanos, já não haverá medo de Deus"
"O animal e o Homem esperam, mas, enquanto a espera animal é instintiva, no quadro dos instintos e de estímulos, situada e fechada, a do Homem transcende os instintos, os estímulos e as situações"
"O Homem, como o animal, não pode não esperar: vive orientado para o futuro e esperando o que projecta, isto é, a consecução de metas e objectivos concretos e também"
"O ser humano é constitutivamente esperante. Porque é que os seres humanos, apesar de todos os fracassos, horrores, sofrimentos e cinismos, ainda não desistiram de lutar e de esperar?"
"Referi aqui muitas vezes que desde o início do seu pontificado Francisco falou da Terceira Guerra Mundial em curso, mas “aos pedaços, por partes”. O que é facto é que essas partes se foram tornando cada vez maiores e ligando-se entre si"
"A guerra não é a solução, a guerra é uma loucura, a guerra é um monstro, a guerra é um cancro que se autoalimenta devorando tudo. Mais: a guerra é um sacrilégio, que causa estragos no mais precioso que há sobre a terra: a vida humana"
"Pela enésima vez estamos perante a barbárie, porque perdemos a memória: esquecemos a História, esquecemos o que nos disseram os nossos avós, os nossos pais"
"Assim, passo a passo, avançamos para a catástrofe. Pouco a pouco, o mundo corre o risco de transformar-se no cenário de uma única Terceira Guerra Mundial. Avançamos para ela como se fosse inelutável. Pelo contrário, devemos, todos juntos, repetir, com força: ‘Não, não é inelutável’. A guerra não é inelutável!”
Judas atraiçoou o Mestre. Vendeu-o por trinta moedas de prata. Ele faz parte da longa história dos traidores. Mas, pensando bem, não tinha sido ele próprio “atraiçoado”?
Neste drama todo, o que mais impressiona é que Deus a quem Jesus tratava com ternura como Abbá -- Pai querido, Mãe --, não respondeu. As suas últimas palavras: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” Aparentemente, foi a derrota e o fim. Mais um crucificado
Nunca ninguém tinha dito, por palavras e obras: Deus é bom, Pai e Mãe de todos. E não tolera a opressão da religião e do poder
"Mas não são só os miúdos ou os adolescentes. O que os adultos fazem para chamar a atenção... O que se investe, o que se gasta, para parecer e aparecer!"
"não nos basta existir, estar aí pura e simplesmente. Queremos, temos fome ontológica de existir para alguém, para os outros"
"Foi com esta mesma problemática que se debateu São Paulo num dos monumentos culturais maiores da Humanidade: a Carta aos Romanos. De nada o ser humano precisa tanto como de justificar a existência, saber-se justificado"
"Pascal, um dos maiores matemáticos de sempre e também um dos maiores cristãos europeus, tem razão, quando disse: o Homem mora ali algures 'entre o nada e o infinito'"
Escolheu o nome de Francisco, o que nenhum Papa anterior tinha feito. Em ligação com São Francisco de Assis, o da simplicidade, da fraternidade universal, da paz, do vínculo com a Terra, do que tinha ouvido Cristo dizer-lhe: “Repara a minha Igreja em ruina...”
Assim, acompanhado por um pequeno grupo de cardeais, ao longo destes nove anos, Francisco empenhou-se profundamente nesta reforma, que implica — ponto essencial —, a reforma da Cúria, apesar de ter consciência de que “é mais difícil reformar a Cúria do que limpar a esfinge do Egipto com uma escova de dentes”
O núcleo é a evangelização, e aí está uma Cúria humanizada, desclericalizada, numa Igreja em saída, não autorreferencial, sinodal, povo de Deus, ao serviço... Francisco põe em marcha “a revolução da primavera na Igreja”, como José Manuel Vidal, director de Religión Digital, gosta de lhe chamar
"Indignar-se com Deus, rebelar-se, protestar contra Ele, ainda é por exigência moral. Estamos atenazados: somos seres morais, exigindo o Bem infinito, e comportamo-nos ignominiosamente"
"Mas também é evidente para qualquer ser pensante que um Deus que, para ser favorável ao ser humano, precisasse de toda aquela humilhação e tortura era um Deus sádico, que, por isso mesmo, não poderia merecer consideração nem respeito"
"É evidente que Jesus não morreu na cruz para aplacar a ira de Deus. Jesus foi vítima daqueles que não aceitaram a sua mensagem, o seu Evangelho"
"De facto, nada de grande, belo e valioso e digno se faz e constrói no mundo sem sacrifício"
"Perante os horrores que estamos a viver, escrever o quê? O meu desejo era tão-só pôr como título: Ucrânia: o horror"
"Mas estamos na Quaresma e, no Domingo passado, o Evangelho narrava as três tentações de Jesus. Jesus não cedeu. Mas, quando se cede, julgando ser Deus, então é o que se sabe, ao percorrer a História: horrores, tragédias sem fim, a brutalidade pura…"
"Nunca a Europa esteve tão unida como nesta condenação. Putin sentir-se-á isolado como nunca, já com um lugar na história dos tiranos, e a solidariedade com os ucranianos é gigantesca e cordial"
"Nesta solidariedade e procura da paz mediante negociações diplomáticas, o Papa Francisco tem sido incansável: 'A Santa Sé está disposta a tudo, a pôr-se a caminho pela paz'"
"O grande objectivo de Francisco é poder entrar em contacto, pelo menos telefónico, com Vladimir Putin. Para isso, precisaria da mediação do Patriarca ortodoxo de Moscovo, Kirill, que, desgraçadamente, se tem colocado ao lado de Putin"
Torres Queiruga: “não se interpreta o mundo de uma determinada maneira porque se é crente ou ateu, mas é-se crente ou ateu porque a fé ou a não crença aparecem ao crente e ao ateu, respectivamente, como a melhor maneira de interpretar o mundo comum”
Philippe Ariès: "Mas gostaria de morrer como morreram os meus antepassados, os meus avós, que morreram como se morria outrora, dizendo adeus, pondo em ordem os assuntos do aquém e os da alma”
Hans Küng: "Eu confio e e é na medida em que me confio que vejo que se trata de uma resposta plena de sentido e que a vida tem sentido"
"O teólogo Johann Baptist Metz não se cansou de repetir, com razão, que só conhecia uma categoria universal por excelência: a memoria passionis, isto é, a memória do sofrimento"
"Se a História do mundo tem uma orientação, ela só pode ser a liberdade. Ser Homem, ser livre e ser digno identificam-se"
"O Homem indigna-se desde o mais profundo de si contra a indignidade, revolta-se contra toda a violação arbitrária e impune da justiça e do direito"
"Jesus não combateu os ricos pelo facto de eles porem os talentos a render e criarem riqueza, recebendo o justo lucro. Aquilo a que Jesus se opôs de modo frontal e duro foi à avareza"
"O outro motivo para Jesus açoitar o espírito de avareza, insaciável, diz respeito à diferença entre coisa e pessoa"
"A experiência religiosa de Deus é a experiência pessoal mais radical que um ser humano pode fazer. Ela transforma a vida, de tal modo que já nada é como era"
"Rezar é ficar à escuta do que Deus no silêncio tem para nos dizer. Rezar não é a tentativa idólatra de converter Deus ao nosso desejo, mas tentarmos nós próprios converter-nos ao desígnio de Deus"
"Há sinais de transcendência no mundo. Deus aparece implicado nas experiências radicais e originárias da existência humana"
"Deus não tem inveja da felicidade do ser humano. Deus, na concepção cristã, é o contrário de um Deus invejoso, pois criou apenas por amor da criatura e permanentemente promove e potencia os dinamismos da sua total realização"
"O mundo segue, portanto, as suas leis, e os seres humanos enquanto criaturas livres têm de procurar os caminhos para uma conduta humana em autonomia e dignidade"
"Aos poucos, a Bíblia dá indicações de que é necessário acabar com esta separação dicotómica do sagrado e do profano"
"Ao crente é preciso perguntar: Se lhe fosse revelado que afinal Deus não existe?! Sentir-se-ia aliviado? Finalmente livre? O que é que mudaria na sua vida? Seria a derrocada moral?"
"O que deve unir crentes e não crentes é a busca honesta e sincera da verdade e o combate generoso por uma Humanidade melhor, mais solidária e feliz"
"Afinal, como escreveu Joseph Ratzinger, "o crente e o não crente, cada um à sua maneira, participam na dúvida e na fé... Talvez precisamente a dúvida, que impede um e outro de se fecharem totalmente em si mesmos, pudesse tornar-se o lugar da comunicação"
"Suponhamos uma sociedade na qual não existisse sequer a palavra Deus. O que é que aconteceria, se a simples palavra "Deus" deixasse de existir?"
"Respondeu o famoso teólogo Karl Rahner: 'O Homem só existe propriamente como Homem quando diz 'Deus', pelo menos como pergunta'"